sexta-feira, julho 08, 2005

UM PAÍS COM RECURSOS – ENERGÉTICOS – À ESPERA DUM ABANÃO TECNOLÓGICO…

UM PAÍS COM MUITOS RECURSOS – ENERGÉTICOS – À ESPERA DUM ABANÃO TECNOLÓGICO…
A era dos recursos energéticos fósseis, está à beira da extinção, tendo mesmo os dias contados. E, se na melhor das hipóteses possamos ter 200 ou 300 anos de crude, o que na escala de uma vida singular, significa algum tempo, à escala do legado humano no planeta significa quase nada!
O Petróleo essa energia fóssil, cara e poluente, foi até agora alimentando abundantemente os cofres dos países que o produzem (OPEP), garantindo ao mesmo tempo as receitas das finanças públicas dos governos ocidentais que o consomem e, sobretudo, fazendo as delícias das grandes multinacionais de combustíveis, a quem nunca interessou o desenvolvimento de recursos energéticos alternativos.
Durante muitos anos e por força dos elevados interesses ligados à situação, este conjunto de interesses mútuos funcionou em pleno, alimentando este estado de coisas em círculo fechado, numa verdadeira simbiose, na qual as partes saíam beneficiadas. De repente, a forma abrupta como os preços do petróleo dispararam nos últimos meses, fez abanar a ordem instituída. Assim, independentemente da voracidade do crescimento chinês e dos fenómenos associados à especulação, podemos ter por garantido que terminou a era do petróleo abundante e acessível. Agora torna-se imperioso que as nações desenvolvidas encontrem outras formas de produção de energia que as libertem da pressão esmagadora dos preços do petróleo.
É urgente desencadear uma nova atitude das pessoas relativamente à conservação dos recursos energéticos, é fundamental caminharmos para novas e pensadas, formas de construção da habitação, que evitem o desperdício energético (quer no verão, quer no Inverno). Temos por isso que repensar inteligentemente não só a habitação como também os transportes diários nas nossas cidades. É imperioso estabelecer em cada um de nós um novo modus vivendi para fazer face aos recursos num futuro muito próximo.
As energias alternativas, cuja promoção é consagrada no Protocolo de Quioto, são a única via energética a explorar no futuro, com a enorme vantagem de serem formas de energia limpas. E nós temos muitos factores de produção energética que outros gostariam de ter: temos vento, temos sol temos mar, temos floresta (por enquanto) e, não chegando, temos ainda urânio em abundância que alimenta a produção de energia nuclear. Porquê a energia nuclear? Sobretudo porque é uma energia limpa, mais barata e actualmente com riscos diminutos decorrentes do avanço tecnológico e científico. Será seguramente a via para a qual os cidadãos das economias ocidentais terão que olhar, sem complexos ecológicos fundamentalistas, dos tais que pensam na preservação de todas as espécies, menos na humana. Quem não se recorda da gritaria contra as gravuras da barragem do Côa, da colónia de pássaros que impediam avançar a auto-estrada do sul, a construção da barragem da Aguieira, recentemente do Alqueva e da Ponte Vasco da Gama, entre tantas outras?
Por isso, de imediato é de esperar a habitual gritaria dos fundamentalistas do ambiente, porque a palavra "nuclear" continua a ser um receio instituído, fácil de agitar, mas neste momento o mundo parece não ter alternativa e, claro, os portugueses também não! Até porque, além de possuirmos mesmo aqui ao lado as centrais nucleares espanholas, há muito que importamos e consumimos energia eléctrica, (cerca de 30%) proveniente do nuclear, venha ela de França ou de Espanha, sem que os ambientalistas se preocupem com este facto!...
Apesar do espectro negativo que habita na nossa memória colectiva, relativamente aos acidentes de Chernobyl ou Three Milles Island, não há que ter receio da tecnologia do actual nuclear. Felizmente que nem tudo tem estado parado a nível da investigação cientifica e tecnológica nesta área. Há novas tecnologias, novos processos, que de futuro utilizarão a fusão de núcleos de átomos de hidrogénio e que se assemelha à forma de produção de energia do Sol que visa substituir o processo tradicional da fissão nuclear, eliminando os seus riscos. Esta futura capacidade de produção de energia é infinitamente superior à tecnologia tradicional. Assim, dentro de 20 a 30 anos, um quilo de combustível para produzir energia por fusão equivale a dez milhões de quilos necessários para obter a mesma quantidade de energia com combustíveis fósseis. Os resíduos produzidos são insignificantes.
O regresso à opção nuclear não tem assim alternativa. Estamos dependentes das barragens, do petróleo, do carvão e do gás natural. Quanto às centrais hídricas, já atingimos praticamente o limite. As centrais térmicas a carvão e a fuel são altamente poluentes (Sines é, por exemplo, a central térmica mais poluidora da Europa, em termos absolutos). Restam as centrais térmicas a gás natural, menos poluentes que as anteriores. Há actualmente um programa de reconversão de centrais térmicas para gás natural que visa reduzir os níveis de poluição que elas provocam. Quanto às energias renováveis, actualmente a única que parece ter alguma viabilidade prática (no sentido de poder ter algum significado) é a eólica, parecendo existir uma verdadeira vontade, numa aposta clara num programa nacional para a sua utilização em larga escala. No entanto, esta opção parece não resolver os problemas energéticos decorrentes ao necessário crescimento que se pretende atingir em Portugal. O gás natural constitui uma opção que nos deixa, totalmente dependentes dos países Árabes. Daí poder concluir-se que é inevitável o ressurgimento da opção nuclear. Portugal, que é o país com maior dependência energética na União Europeia, terá que encarar, mais cedo ou mais tarde, a produção de energia nuclear, (tendo a vantagem de possuir a matéria prima em abundância) sob pena de não poder competir, nos custos de um dos principais factores de produção, com os países com os quais economicamente se relaciona, nomeadamente a Espanha, com a vantagem de poder equilibrar definitivamente a nossa balança de pagamentos.
Assim, na semana que passou houve duas boas notícias na alternativa energética. Uma é a assinatura do acordo, entre a União Europeia, a Rússia, a China, os EUA, o Japão e a Coreia do Sul para produzirem o maior reactor de fusão nuclear (Reactor Internacional Termonuclear Experimental), a outra é que o ex-accionista da Galp, Patrick Monteiro de Barros, tem vindo a dar visibilidade a um projecto nuclear. Segundo o jornal “O Público”, este investidor defende que o país só conquista a sua "independência energética se construir três centrais nucleares". Seria bom que desta vez, assistíssemos a um verdadeiro abanão tecnológico, sem complexos, aproveitando as correntes favoráveis de quem pretende investir, à semelhança da opção energética finlandesa que tantas vezes nos é apontada como o paradigma de desenvolvimento…