sexta-feira, julho 08, 2005

Pois, eu sei que é injusto, os espanhóis jogam com Baltasar Garçon!...

Sabendo nós que os nossos vizinhos espanhóis estavam bem pior que nós aquando da nossa entrada na então Comunidade Económica Europeia, sabemos também que neste momento continuam bem longe de nós, só que agora, bem à nossa frente! Neste sentido gostaria que partilhassem comigo o “desabafo” de uma Sra. chamada, D. Odete Pinto que, com a devida vénia, aqui publico, partilhando convosco a reflexão conjunta do seu conteúdo. Atente-se pois:


“Só posso estar grata a Espanha por ter acolhido tão bem um dos meus filhos e três netos.
De facto o meu filho, arquitecto de software, estudioso, dedicado a 1000%, ficou desempregado na sequência de mais uma falência à custa de compras de moradias de luxo e outros bens pessoais para os sócios da empresa.
Como já não podia pagar o colégio das crianças, tentei arranjar vaga na escola oficial em frente da casa dele. Não havia vagas. Até que tive que falar com a Directora, lavada em lágrimas, pedindo que aceitasse os meus netos porque o meu filho estava desempregado e a prestação da casa era alta.
Pouco tempo depois, disse-lhe: filho, vai-te embora deste país enquanto as crianças não estão na escola primária.
Com o curriculum na Internet foi convidado por uma empresa americana em Madrid, para onde foi viver e eu, que falo espanhol fui ajudar a tratar da papelada.
Nunca lá ouvi falar em professores com a "casa às costas" durante 15/20 anos. Como é que os outros países mais próximos de nós resolvem o assunto?
E quem diz o ensino diz muitos outros temas como a saúde.
Só sei que cheguei a Sta. Eugénia, em Madrid, para fazer a inscrição no centro de saúde e perguntaram-me se queria a consulta para dali a 30 minutos. Não há senhas e muito menos bichas. Não há taxas moderadoras. Os reformados não pagam remédios. Além disso, nos centros de saúde fazem-se análises, electro-cardiogramas e nalguns até radiografias. Os centros de saúde estão abertos ao sábado e há consultas médicas no domicílio.
De facto, não há abono de família mas, como as necessidades básicas são asseguradas eficazmente, sendo até os medicamentos muito mais baratos, o abono de família (que deve "consumir" muitos funcionários públicos) não faz falta.
Como não há sigilo bancário, entregamos o assunto de IRS ao nosso Banco e está o caso arrumado. Ninguém anda a coleccionar facturas de farmácia e quejandos.
Há uma grande diferença, porém. Antes da inscrição formal no centro de saúde, temos que apresentar o comprovativo do recenseamento - fundamental para planificar até as vagas nas escolas).
Também o recenseamento e o registo na "polícia de estrangeiros" ou na Segurança Social é fácil: um/a funcionário/a (não é porteiro) está à porta e pergunta-nos o que precisamos. Dá-nos os formulários (muito simples) e indica-nos onde seremos recebidos.
Tudo isto sem senhas, nem bichas e sem lojas do cidadão. Algum tempo depois recebemos o DNI (documento nacional de identificação) onde, além do respectivo número, consta ainda o nº de contribuinte, o nº de eleitor e o da segurança social.
Foi com grande aflição que insisti, em princípios de Agosto 2004, que tinha de matricular 2 crianças na pré-primária e 1 na primária. Sempre me disseram, admirados com a minha incredulidade, que não me preocupasse - a partir de 1 de Setembro tudo estaria resolvido, visto que o recenseamento estava feito.
E assim foi. No dia 13 de Set. 2004, as crianças começaram as aulas, sem problemas. O "sistema" espanhol parece preferir tratar bem os cidadãos e tudo fazer para lhes simplificar a vida para que eles produzam mais para o país.
Resumindo, tudo somado e ponderado, o cidadão sente-se bem tratado e obviamente cumpre com satisfação os seus deveres de cidadania - porque, além do mais, os percebe com clareza.
Num país a sério, o interesse do país e dos cidadãos são o público-alvo de todas as legislações, regulamentações e práticas. Afinal, o exemplo vem sempre 'de cima'. É preciso que o cidadão conte! e não "alguns" cidadãos.
Pergunto: a Espanha está na bancarrota? Os Serviços de Saúde e de Educação espanhóis estão falidos? É só em Portugal que se gastam milhões com os ingratos cidadãos?”


Reflexão: importante seria então analisarmos e reflectirmos o caso Português!... Porque é que estamos pior? O que se passou desde então? Onde falhámos, quem são e onde param os responsáveis pelas aplicação das políticas desenvolvimento económico, da educação, da saúde, segurança social, da justiça, etc? Quais as consequências da sua má gestão e negligência? Num país sem recursos, (excepto os bancos…) porquê reformas douradas dos políticos e gestores públicos, responsáveis por toda esta desgovernação? E a alta (e imoral) qualidade de vida dos pseudo-empresários e outras “esponjas absorventes” dos fundos europeus para o desenvolvimento, em proveito próprio? Não seria fundamental moralizar a Sociedade Portuguesa julgando os verdadeiros responsáveis pela nossa regressão? E com que Justiça?
Pois, eu sei que é injusto, os espanhóis jogam com Baltasar Garçon!...