domingo, abril 03, 2005

Homens que não morrem nunca!...



Faleceu uma das figuras mais marcantes da História Contemporânea.
Desde a sua assumpção do cargo papal, tanta coisa mudou na Europa e no Mundo, basta recordar a Guerra-fria, a queda do famigerado Muro de Berlim e a desintegração da antiga União Soviética.
Este apóstolo da paz foi por razões da organização política do seu próprio país, a Polónia, um grande lutador contra o marxismo totalitário. Já numa segunda fase, indo de encontro à Doutrina Social da Igreja, mostrou ser também um adversário do liberalismo selvagem que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. A sua Mensagem teve sempre como temas centrais: a unidade dos cristãos e o ecumenismo.
Durante o seu pontificado, João Paulo II considerou a vida, o pão, a paz e a liberdade os maiores desafios que a Humanidade enfrenta na actualidade, tendo disso dado conta aos responsáveis mundiais.
Na campanha em defesa da Vida, da Família, e da própria Igreja como instituição, elementos fundamentais e nucleares da sociedade em que vivemos, não conseguiu libertar-se do ancestral conservadorismo da instituição, pelo que não teria acompanhado e dado sinais de alguma abertura da Igreja à mudança dos tempos e evolução das relações e regras sociais em temáticas tão importantes como: a sexualidade, o matrimónio, a ordenação das mulheres, ou o matrimónio dos padres. De facto, esperava-se um pouco mais.
A fome ou seja a ausência de Pão, em referência aos milhões de seres humanos que sofrem gravemente de desnutrição e dos milhões de crianças que a cada ano morrem de fome ou das suas consequências. Recordando “o princípio do destino universal dos bens da terra” que deve motivar um compromisso radical para a justiça e um esforço de solidariedade mais atento e determinado. Este é o bem que poderá vencer o mal da fome e da pobreza injusta.
Era com pesar que em vez de Paz falava dos conflitos armados que fossem entre Estados, (foi frontalmente contra a invasão do Iraque) e também de conflitos étnicos entre povos e grupos que vivem num mesmo território e que tantas vítimas inocentes causam. Defendia que os conflitos no Oriente Médio, África, Ásia e América Latina, causavam não só danos materiais, mas fomentavam também o ódio e faziam crescer a discórdia, sem esquecer o fenómeno cruel e desumano do terrorismo, flagelo que alcançou uma nova dimensão. Nestes males, dizia o Santo Padre, que à prepotência se devia opor a razão; ao confronto da força, o confronto do diálogo; às armas apontadas, a mão estendida; ao mal, o bem. Para construir a paz verdadeira e duradoura, é necessária uma força de paz que não retroceda ante nenhuma dificuldade.
Este peregrino da Liberdade promoveu em tantos países e culturas outros tantos debates em torno dos diferentes conceitos de laicidade e religiosidade, defendendo que não havia que temer que a justa liberdade religiosa fosse limite para as outras liberdades ou prejudique a convivência civil. Defendia ainda que “a liberdade religiosa se desenvolve e floresce também qualquer outra liberdade, porque a liberdade é um bem indivisível e prerrogativa da própria pessoa humana e de sua dignidade”.
Inefável peregrino, com uma notável capacidade de entrega por causas, valores em que acreditava e pela fé em que sempre o orientou. Um verdadeiro exemplo a todos nós. Foi inicialmente muito céptico à corrente da chamada Teologia da Libertação que florescia na América do Sul, mudou posteriormente a sua posição quando se deparou que aquelas gentes tão pobres mas extremamente católicas pouco mais tinham do que a própria espiritualidade, nada mais restava do que aquele cristianismo marxista. Teve também a humildade, (e isto é histórico) de pedir perdão pelos erros cometidos pela Igreja ao longo dos tempos.
João Paulo II tinha um carisma tão especial de simpatia e de comunicação, que conseguiu o feito notável de captar não só a atenção e admiração de todos os povos, culturas, religiões do planeta mas também, o que é mais notável ainda, o interesse e o entusiasmo dos mais jovens às causas que sempre defendeu.
Homem de notável dimensão Social e Espiritual, deixa a todos nós e, fundamentalmente, à Instituição que representou sempre com a maior dignidade um legado fabuloso, quer na forma, quer no conteúdo, saibamos nós e a própria Instituição Igreja, ser merecedores de tão preciosa herança.