Balanço de uma longa e penosa campanha eleitoral
Estamos a chegar ao fim desta maratona eleitoral para a Presidência da República que teve início no já longínquo mês de Setembro, (lembram-se?) com as primeiras movimentações políticas de pré-campanha de alguns candidatos. Foi muito tempo de exposição política dos candidatos e o cansaço já algum tempo se tinha apoderado das pessoas, podendo, eventualmente, ter algumas consequências de desmobilização nos eleitores que pode reflectir-se no próximo dia 22 de Janeiro. Ainda por cima, durante todo este tempo não se verificou por parte de algum dos candidatos qualquer nova mensagem, nem sequer inovação no discurso, por parte dos cinco candidatos que restaram para fornecer a foto ao boletim eleitoral.
No candidato Mário Soares sobressaiu a dinâmica e jovialidade que sempre colocou na transmissão da sua mensagem da qual tivemos oportunidade constatar nós próprios. Não há dúvida que este homem é um fenómeno impressionante de longevidade. Personagem fascinante, espontânea, aberta ao diálogo, afectuosa e profundamente optimista, um homem que adora viver, cheio de energia, percorreu o País de norte a sul a tentar explicar, às pessoas, com toda a humildade, o erro que o eleitorado do centro Esquerda comete, ao depositar o voto no candidato da direita ou até a dispersá-lo noutras candidaturas, facto este que poderá ter, futuramente, consequências funestas numa governação que se deseja estável.
Soares, pode dizer, com toda propriedade, que foi vítima de um certo comodismo dos presidenciáveis da sua área política. Como sabemos ninguém da Esquerda, avançou antes de o PS decidir quem apoiaria nas Presidenciais. Falhou Guterres, falhou Ferro Rodrigues, falhou Vitorino e, quando Soares, com uma dignidade e uma coragem que não podem deixar de ser enaltecidas, aceitou o desafio do PS, eis senão que Manuel Alegre decide também, ao arrepio do seu partido, candidatar-se, de forma revanchista contra Soares, tentando minorar os prejuízos no último congresso e da sua arrasadora derrota para secretário geral do P.S.
Manuel Alegre levou o seu capricho até às últimas consequências, dando provas de uma tremenda falta de dimensão, ao tentar vingar-se da anterior derrota interna. A decisão irracional e irresponsável do poeta foi um acto de traição ao seu partido e uma deslealdade ao seu companheiro Mário Soares. Considero este gesto do poeta deputado uma atitude inqualificável que pode revelar o carácter ambíguo de alguém que nunca poderia ser o meu candidato à Presidência da República. O candidato Manuel Alegre foi, para mim, a maior das decepções. Agiu de forma indecorosa relativamente ao partido de quem sempre dependeu, pelo qual é ainda deputado e, do qual, deveria ter já pedido a demissão!...
Resta saber como reagiria a Direita a uma segunda candidatura na mesma área política! E com os indicadores, de que dispomos, (nunca deixarão de andar por aí) era capaz de ser interessante! Acho que ninguém arriscaria um simples palpite, nem qual seria o resultado de mais uma candidatura no PSD.
Quanto aos outros candidatos, é perfeitamente obvio que a Jerónimo de Sousa e a Francisco Louçã nunca lhes passou pela cabeça passarem sequer à segunda volta nestas eleições. No entanto, as suas máquinas eleitorais funcionaram de acordo com os seus objectivos propagandísticos e tempos de antena. Quer um quer o outro fizeram uma engenhosa campanha publicitária aos seus partidos e uma propaganda descarada aos seus propósitos políticos contra o Governo, (apesar de estas serem eleições presidenciais) que, como se esperava, nada tiveram a ver com a natureza do acto eleitoral em si, como de resto já nos habituaram. Levantando os obstáculos possíveis contra o P.S. levantaram-nos também à progressão da candidatura de Mário Soares.
Assim sendo, e por razões messiânico-terceiro-mundistas do eleitorado, admito elevada a probabilidade de Cavaco Silva ganhar logo à primeira volta. Se isso acontecer, é de elementar justiça que ele preste homenagem aos seus aliados incondicionais: Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã que fizeram todo um trabalho que competiria à Direita fazer, ou seja fizeram o que Marques Mendes e Ribeiro e Castro deveriam ter feito mas que, à semelhança de Cavaco Silva, habilmente se remeteram a um silêncio deliberado que se mostrou sensato face a tão eficaz luta fratricida dos candidatos desta Esquerda quase infantil, inábil e bacoca. Faltando-lhes ainda o último propósito dos seus fins anunciados, ou seja, em conjunto com o provável eleito, ajudar deitar abaixo o Governo legítimo, impedindo-o de levar por diante as reformas e o ciclo de governação iniciado em Março passado, num momento particularmente difícil para o nosso país e para a Europa.
Sem nada ter lucrado como essa atitude insensata e irresponsável, a Esquerda, ajudará deste modo a franquear livremente o caminho à Direita, fazendo por ela o trabalho.
A Direita só precisou de estar quieta e calada; olhando à sua volta, limitou-se a ver o que se passava…
Se este cenário, desgraçadamente, ocorrer quem ficará uma vez mais a perder é o país e, obviamente, todos nós! Tomara eu enganar-me!...
Tudo ainda depende de nós próprios, daí o nosso dever de reagir exercendo em consciência o nosso dever cívico no próximo dia, 22 de Janeiro…
Seia, 16 de Janeiro de 2006
O Mandatário da candidatura de Mário Soares
(João José Cabral Viveiro)
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