domingo, março 04, 2007

Em defesa dos nossos valores Civilizacionais


O ditador só manteve o poder por via da opressão, da manutenção da ignorância e da miséria da esmagadora maioria da população portuguesa. Por isso uma das grandes consequências, talvez a principal do Estado Novo, fosse precisamente a imensa e gritante ignorância cultural, cívica e política que as pessoas, 30 anos depois de Abril, ainda reflectem nos seus comportamentos e atitudes.

O que Portugal não tem e deveria ter era a capacidade de preservar os seus espólios, (mas todos) que uma vez perdidos nunca mais se poderá refazer História.

Concordo que é de enorme importância que se possa estudar o período de Salazar como quaisquer outros períodos ou outras personalidades e daí a elevada importância que se criem museus, arquivos, bibliotecas, locais de estudo e investigação em qualquer local ou localidade que isso nunca fará de nós especiais admiradores de Salazar, (nem dos restantes) mas sim pessoas preocupadas com o nosso irrepetível legado histórico.

Enquanto jovem assisti e tomei parte de alguns movimentos cívicos e políticos durante o PREC e da transição deste país para a democracia, depois de uma longa noite fascista. E, ao defender a preservação do espólio desta tenebrosa figura só poderão acusar-me de querer preservar a possibilidade de estudo de matérias, que se não forem recuperadas se perderão para sempre, e nunca de homenagem a quem prepotentemente, e apenas por vontade própria, apodreceu na cadeira do poder…

Mais que um testemunho histórico, o facto de se estar a tentar erigir um museu Salazar é, no mínimo, uma afronta a todos aqueles que sofreram. É uma afronta lamentável a todos que sofreram com os seus familiares e foram condenados, torturados, estropiados e mortos pelo regime. Esses sim, são testemunhos históricos da estupidez humana, e se há alguém neste caso que merece um museu, são eles, porque perderam a vida a lutar para que nós, tão singelamente, possamos escrever em Liberdade: Fascismo nunca mais!

Fico surpreendido, quando me deparo com neo-fascistas, e ex-fascistas que perderam a vergonha, e defendem agora o que nunca tinham defendido antes, ou seja, o seu direito à expressão na Democracia que o 25 de Abril permitiu quando, o Estado Novo que tanto defendem, nunca respeitou democraticamente, fosse o que fosse, eliminando por todos os meios aqueles que dele discordavam. Bastará para isso recordar a morte de Humberto Delgado, as vítimas do Tarrafal, os presos do Forte de Peniche, de Caxias e tantos outros “locais especializados na eliminação de pessoas” que apenas gritaram pela Liberdade.

Por tudo isso é fundamental manter viva a memória do terror do fascismo para que as gerações futuras não permitam o retorno à barbárie.

Agora, quem defendeu durante tantos anos o Não Direito à Liberdade de Expressão devia ser comedido agora nessa reivindicação, ou pelo menos, disfarçar hoje, aquilo que, ferozmente, ontem tanto defendeu.

O mundo civilizado e a Humanidade agradecem.