terça-feira, janeiro 02, 2007

NOVO ANO VIDA NOVA!...

O referendo é já a 11 de Fevereiro


Votar “SIM” no referendo sobre a I.V.G.

Ao votar “sim”, o cidadão não está a obrigar ninguém a abortar nem a fazer a apologia do aborto, está apenas a dar o direito à escolha. A questão da IVG é acima de tudo uma questão de consciência pessoal... Entendo que cada cidadão deve ir entregar o seu voto, por ser cidadão livre e consciente, mas nunca por ter uma preferência partidária ou religiosa. A questão política/religiosa é para ser posta de lado, nada mais há a referendar além da questão da liberdade de consciência que é uma questão de bem-estar e paz social e de verdadeira cidadania.

Algumas hierarquias conservadoras, (não necessariamente esclerosadas) da Igreja Católica, felizmente só algumas, continuam, como o fizeram através dos séculos, (quem não tem presente o papel da infelizmente célebre Santa Inquisição que matou milhares e milhares de pessoas inocentes…) a querer negar as evidências e o progresso da Ciência, em nome de qualquer coisa (o eterno dogma) que, afinal, ninguém percebe muito bem o que é.

Uma nova frente de luta se prepara para mais uma batalha social, felizmente hoje numa sociedade muito mais evoluída, aberta e democrática, mas na qual, mais uma vez, sectores mais conservadoras da Igreja se começam já a movimentar de forma organizada.

Tenho acompanhado, com alguma assiduidade, os meios de comunicação social, e não resisto a deixar mais algumas notas sobre o tema do momento que vai dominar os próximos tempos da actividade política e social no nosso País: o referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez até às 10 semanas, com acompanhamento médico devido e portanto em condições que não ponham em perigo a saúde da própria mulher.

A luta do “sim” nesta campanha que se avizinha, será exactamente contra a falta de seriedade, hipocrisia, intolerância e abuso de determinados poderes que inevitavelmente aparecerão a dar a cara. Não é aceitável, por exemplo, que padres aproveitem as suas homilias para uma campanha desenfreada e não esclarecedora sobre este assunto. Na celebração de uma missa, não há o direito ao contraditório, e a opinião de um determinado representante da Igreja pode não ser a mesma de outros membros desta religião. Qualquer católico com um mínimo de bom senso concordará comigo se eu aqui disser que não é essa, nunca foi e não tem o direito de ser, a função de acto tão solene como é uma missa.

Também é uma falácia, uma enorme hipocrisia até, fazer crer às pessoas que se está a tentar liberalizar o aborto. Já li vários artigos, mesmo de pessoas ligadas à Igreja Católica, que tentavam incutir nos leitores menos atentos, essa ideia pouco séria, errada e até maldosa. Melhor seria que estas pessoas se predispusessem a participar em acções de esclarecimento, livres e abertas, em que todas as ideias e convicções pudessem ser expressas e debatidas.

Basta lembrar os mais distraídos que existe já uma lei sobre este assunto, uma vez que já é permitido à mulher em determinados casos, nomeadamente de violação, recorrer a esta prática até a um período bem mais longo. Não é portanto uma novidade no nosso País.

O que vai estar em causa é tão-somente uma alteração ou reformulação dessa lei, baseada em estudos científicos, hoje em dia já aceites em praticamente todas as sociedades modernas. Nem todos os Países já o puseram em prática, é certo, mas é inegável a evolução nesse sentido.

Não acredito que a reformulação desta legislação vá, obviamente, aumentar os casos de aborto que já se praticam; mas, seguramente, irá permitir colocar em igualdade de circunstância as mulheres que se decidem a um acto hoje só acessível a quem tem dinheiro para o ir fazer a Espanha, permitindo que se passe a fazer de uma forma legal, e portanto nos locais medicamente assistidos, em condições de dignidade, ao contrário do que hoje se faz, às escondidas e em condições muito precárias, ou será que a penalização da interrupção actual tem, ao longo dos tempos, evitado o aborto clandestino?

A campanha que se avizinha não será fácil. O PS tomou já posição oficial pelo "sim". Por outro lado, o PSD preferiu não tomar posição nenhuma, o que aliás não admira muito pois são raras as vezes que consegue tomar posição consistente seja sobre o que for…

No entanto é de crer que vai ser dos sectores mais conservadores da nossa sociedade que virá a maior oposição à IVG. É aqui que todos temos de estar atentos e esclarecer o que tiver de ser esclarecido de forma correcta, consistente e com elevação…

Acabo este artigo como iniciei um anterior sobre esta mesma matéria: interromper ou não interromper uma gravidez é um puro acto de consciência que apenas diz respeito a quem reflectidamente deve tomar a decisão, no seu entender, certa. Assim sendo, quem somos nós para julgar socialmente as decisões, muitas vezes dramáticas que outros, inevitável e desgraçadamente, tiveram que tomar?