segunda-feira, março 13, 2006

O Boato e os Boateiros!...

Neste país de brandos costumes, a teoria do boato lembra que ele nasce geralmente de um rumor e se propaga por contágio.

Como as bactérias putrefactas, o boato precisa sempre de um caldo de cultura adequado e de um clima instável numa sociedade instável pelas mais diversas razões, reflexo do analfabetismo e do atraso sistemático de muitos anos que continua a impedir as pessoas de chegar à modernidade.

Numa sociedade que pretende ser urbana mas que parece não querer deixar de ser provinciana e rural, nos seus piores aspectos, o boato é ainda mais fácil de propagar porque as limitações à educação e à cultura impede-as de olhar mais além, satisfazendo-se alarvemente com o gozo dos resultados de uma farta colheita, após eficaz sementeira.

É esta sociedade que dificilmente conseguirá apanhar o comboio que transportaria aos valores das sociedades evoluídas, estas sim, promotoras da modernidade...

Pior que o temível vírus das aves, o boato resiste a tudo, sendo enriquecido a cada momento, a cada passagem, tornando-se cada vez mais forte e eficaz!...

Passa de boca em orelha e tem ligeiras variantes, mantendo, no entanto, o núcleo essencial de uma história verosímil, mas falsa. Possível mas improvável. Previsivelmente imprevisível. Porque alguém disse a outrem sem saber ao certo a fonte, porque essa fonte o já teria ouvido a alguém que também ouviu dizer a indeterminada pessoa.

Do boato ao facto vai uma distância que parecendo inocente e inofensiva, é em certas circunstâncias, fatal para as vítimas eleitas a quem se pretende atingir.

A hipocrisia e cinismo popular encarregam-se do resto. De o amplificar de forma vil quase sádica para que possa doer, sem dó nem piedade às vítimas eleitas à semelhança dos julgamentos medievais na praça pública ou mais recentemente nas tortuosas e sádicas provas inquisitórias…

«O mal é de quem as ouve porque quem as diz fica aliviado»!...

Há centrais de boatos que espalham a epidemia com efeitos multiplicadores pelos sítios certos pondo em causa a “própria saúde pública”, porque o boato é uma praga mesmo quando tem alguma graça e parece inofensivo. “Ainda bem que só toca aos outros”…

Para mal dos nossos pecados, os últimos boatos lançados em Portugal aquando das eleições legislativas nem sequer tinham piada e pareciam cientificamente programados para aumentar a desconfiança e, pior que isso, serviram, sobretudo, para exercer invejas e vinganças pessoais. Porque nesta sociedade de cobardolas, a seguir ao boato vem sempre a “deliciosa” justiça popular e a condenação pelas costas, para deleite de quem o programou.

Enfim... O Conhecimento e a Inteligência são sem dúvida o melhor antídoto para a inveja e a esquizofrenia colectivas. A fórmula resolvente é mesmo ver as coisas pela positiva.

Será que algum Senense minimamente inteligente poderia alguma vez cogitar sequer que o Hospital de Seia poderia deixar de ter Serviço de Urgências?

Pois… E não é que há gente que acredita mesmo?... Há gente capaz de tudo!...