sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Zeca Afonso, o exemplo do lutador inconformado


Fez hoje, dia 23 de Fevereiro, 19 anos que morreu José Afonso, uma das figuras mais míticas da luta contra o fascismo.

Nasceu em 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Se fosse vivo, teria feito, 75 anos.

O Zeca Afonso foi uma das figuras mais marcantes da canção de intervenção em Portugal. Desde os anos 50 que desempenhou um papel notável no combate à ditadura e opressão através do canto e da poesia. Cultivou vários géneros poéticos musicados, desde o fado à canção popular, transformando a letra e a música em mensagens.

Compositor de mão cheia, soube conciliar a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto. Zeca Afonso caminhou, sem vacilar, um percurso de coerência. Recusou sempre o caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo, na denúncia dos oportunistas, dos "Vampiros" que destroçaram Abril, no canto da cidade sem muros nem ameias, o socialismo, da "Utopia".

Cantou a liberdade num país onde a mordaça da censura calava vozes de contestação ao regime. Como outros, foi perseguido pelos vampiros do sistema, ao assumir-se declaradamente como antifascista.

A infância repartiu-se entre Aveiro, Angola, Moçambique e Coimbra, devido às sucessivas deslocações profissionais do pai.

Em 1958 gravou o seu primeiro disco «Baladas de Coimbra». Em simultâneo acompanhava o movimento que apoiava Humberto Delgado à Presidência.

Em 1964, deslocou-se para Moçambique, onde deu aulas de História no Liceu da Beira. Foi observador atento e sensível à realidade de então, que contou, cantando: “Bairro Negro” e “Lá no Xepangara”, são exemplos que traduzem bem a sua lucidez e coragem de afrontar a ditadura, afirmando o seu anticolonialismo.

Regressado a Portugal tornou-se um dos símbolos da resistência ao regime, imparável na construção de um repertório de música de intervenção, alimentando assim, a crescente onda de insatisfeitos que o ouviam na clandestinidade e o cantavam em reuniões privadas.

A sua canção “Grândola Vila Morena”, tornou-se um dos símbolos da Revolução de Abril, onde as expressões, Terra da fraternidadeEm cada rosto igualdadeO povo é quem mais ordena, surgiam como palavras de ordem e mensagens de esperança.

Tenho orgulho em ter assistido em 1983, no seu último concerto no Coliseu de Lisboa. Neste concerto, o “Zeca”, dizia o adeus a todos aqueles que lhe reconheciam a arte, a coragem, a dignidade, a grandeza... Viria a morrer em Setúbal, quatro anos mais tarde em 1987.

Apesar de nos ter deixado fisicamente, o Zeca continua presente em muitos de nós e imortalizado pela História contemporânea de Portugal. Além do respeito pela sua memória agradecemos-lhe o seu percurso e o verdadeiro exemplo do lutador inconformado pela causa da Liberdade e da Democracia.