Será inevitável o Choque Civilizacional?
A Liberdade é uma característica fundamental à vida democrática da Civilização Ocidental. Foi um inestimável legado da Antiguidade Clássica, através dos Gregos, os nossos verdadeiros pais culturais. Mas a Liberdade, (sensação tão recente para os portugueses) continua ameaçada, na actualidade, devido às mais variadas vicissitudes, (politicas e económicas e, incrivelmente, religiosas), como também a tornar-se, num bem cada vez mais escasso em outras latitudes.
Estávamos longe de imaginar que na Europa Democrática, do século XXI, a Liberdade, nomeadamente, a liberdade de expressão, poderia ser colocada em causa, ameaçada pelo medo e coarctada pelo fanatismo religioso. A Liberdade, além de um desiderato fundamental dos regimes democráticos, é a principal responsável pela evolutiva capacidade criadora, o verdadeiro motor da nossa Civilização, por isso, precisa mais é de quem a defenda.
Já tínhamos na memória longínqua o trauma das perseguições da Santa Inquisição que ainda hoje nos envergonham, ou, mais recentemente, a celeuma levantada a um preservativo colocado no nariz de João Paulo II, pelo cartoonista António, como temos ainda, em presença, a sentença de morte ao autor dos versículos satânicos, Salmon Rushdie, (também ele muçulmano), ou até, a morte de um cineasta-realizador holandês por um fanático islamita. Os fanáticos muçulmanos, como os católicos fanáticos ou os fanáticos de outras confissões, deveriam compreender que a verdadeira falta de respeito é imporem-se aos que pensam de forma diferente. A minha opinião pessoal é que os “cartoons” da polémica não são ofensivos, particularmente se comparados com as caricaturas que circulam mostrando os mais variados políticos mundiais e nacionais, como ainda os Budas, Papas ou Jesus.
Por falar em Budas… O que será comparar inofensivos, “cartoons” com a destruição, a dinamite, dos Budas gigantes que há mais de 1.500 anos, dominavam o vale de Bamiyan, pelos fundamentalistas islâmicos, talibans? Estes sim, cometeram um crime tão hediondo como irreparável.
Destruíram não só parte da memória do Afeganistão, como também um testemunho, notável e excepcional do encontro Civilizações do Oriente e do Ocidente corporizada por Alexandre Magno que notavelmente teria sido o primeiro governante a ter uma visão Universalista do mundo, à medida que se deslocava (conquistava) para leste e contactava com a diversidade daqueles que passavam também a ser seus súbditos. Esta visão de um mundo global só tornaria a ser entendida, já no Renascimento, pelos portugueses, a partir da epopeia das Descobertas.
Como é possível destruir assim um Património pertencente à Humanidade e classificado pela UNESCO? E não é que esse crime civilizacional foi cometido em nome do Islão da religião e do profeta Maomé continua impune? O que fizeram todos aqueles islamitas moderados que diziam não concordar com esta atitude gratuita, imbecil, tão troglodita como estúpida? Manifestaram-se também ruidosamente? Não há palavras!... Seguramente que todos nós poderemos analisar e julgar comparando a dimensão daquele crime e aquilo que na actualidade está em verdadeiramente em causa…
Tudo isto, talvez devido aos traumas de uma cultura árabe falhada que foi brilhante em várias áreas do saber. Já no século VII, tinha escolas e universidades onde se estudava: Astronomia, Geografia, Matemática - os algarismos, o sistema decimal e a álgebra – adoptados e utilizados por nós ainda nos dias de hoje; mas também a Medicina com o conhecimento e descrição de doenças, a Química, (álcool e ácido sulfúrico), Poesia, Contos, Filosofia e na Arquitectura fabulosa: grandiosos palácios, mesquitas, arco em ferradura, cúpula, coluna, pórtico, pátio-jardim interior, decoração geométrica e estilizada, utilizando tal como os egípcios, a escrita como elemento decorativo, arabescos e rendilhado em relevo muito original. Foi também brilhante na Agricultura: novas culturas e árvores de fruto e novos instrumentos agrícolas como a nora e novas técnicas de irrigação. Artesanato de vidro, papel, cerâmica, construção naval, instrumentos náuticos e tantas outras actividades.
Após as Cruzadas, em nome da Fé Cristã e à Reconquista que se lhe seguiu, a brilhante Cultura Árabe regrediu tanto que quase desapareceu, quedando-se na época medieval, dando lugar exclusivamente à religiosidade divulgada pelo profeta Maomé que apesar de unir a família Islâmica, sufocou-a de quase tudo o resto.
Será que o choque de civilizações está debaixo dos nossos olhos sem que o queiramos reconhecer? Talvez por não querermos admitir a nossa própria responsabilidade, (os árabes nunca digeriram as Cruzadas) no germinar dos medos que degeneram inevitavelmente em terror.
Que estes fundamentalistas fanáticos queiram impor uma cultura medieval a todo o Islão é um problema deles, agora quererem impedir aos outros, o livre exercício de Liberdade é demais. Os muçulmanos, como os católicos ou outros, devem compreender, de uma vez por todas, que a verdadeira falta de respeito é impor os seus tabus, crenças e fobias a todos os outros.
Os meus valores são “Ocidentais”, seja lá o que for que isso signifique exactamente, com toda a carga judaico-cristã que isso acarreta, (embora os laicistas prefiram muitas vezes enfiar a cabeça na areia) é por esses valores da Democracia, da Liberdade e as causas que lhe estão inerentes que eu luto para que me possa sentir sempre como um cidadão livre, de um mundo livre regulado pela Lei e pelo Direito.
Os fanáticos fundamentalistas só conhecem o ódio. Não se apercebem que são, em si mesmo, os piores inimigos do seu próprio povo. O importante é não nos deixarmos contaminar pelo seu ódio porque este se alimenta de si próprios. Por isso mesmo, jamais poderia, ficar calado mediante semelhante ignomínia, apesar de entender também que não é momento de promover maior chama na fogueira que já arde em labareda alta.
No meu país e nos países livres do “mundo ocidental”, os muçulmanos, (e todos as outras confissões) beneficiam de uma liberdade que alguma outra confissão teve ou algum dia virá a ter nos países muçulmanos. Defendo que os muçulmanos continuem a viver aqui, a liberdade que muito provavelmente não têm nos seus países; é bom saber que deste lado têm toda a Liberdade de se reencontrarem e reencontrarem (se o entenderem) a sua própria identidade cultural.
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