In memoriam de minha Mãe – 27 de Janeiro de 2006
Se existe pessoa que nos marca definitiva e indelevelmente, essa pessoa é a nossa Mãe!
Ela é, seguramente, a primeira pessoa da lista que marcará para sempre os filhos, bem antes de todas as outras que se lhe hão-de seguir. Tanto que, por vezes, até nos esquecemos que a sua influência permanece latente em nós e está sempre presente, habitando o mais profundo do nosso “ser”, bem lá no inconsciente, brotando espontânea e naturalmente, a cada pensamento, sem esforço de nós próprios, a cada momento, a cada atitude, a cada decisão, dando origem a tudo aquilo em que nos tornamos e a forma como vemos as coisas que nos rodeiam.
Lembrar a minha Mãe é trazer à superfície do meu “eu” tudo aquilo que fez parte do meu processo de aprendizagem, no início da minha vida, na minha infância, até à adolescência; como, também, posteriormente, na concepção que marcou a minha idade adulta e o meu projecto de vida: os Valores, a Moral, o modo de ver as coisas que marcaram a minha maneira de ser como elemento individual e também como elemento dum colectivo tão heterogéneo, e por vezes tão desequilibrado, do qual hoje faço parte.
Nestes momentos as palavras tornam-se difíceis. É complicado nesta hora dizer qualquer coisa, apesar disso quero recordar as inumeráveis coisas simples, mas tão importantes, quanto significativas que a minha Mãe sempre indicou; são elas que me preenchem o pensamento, nestes primeiros momentos da sua ausência, sufocadas pelo incómodo silêncio que um enorme vazio me traz à lembrança.
O seu pensamento e atitude perante a Vida marcaram em mim a fórmula equilibrada entre razão, emoção, dever e só por fim os direitos, que desde sempre orientaram a minha atitude em relação aos outros, como também a mim próprio.
Posso dizer que no essencial de mim lhe devo quase tudo que sou. Dela dependeu uma educação rigorosa, mas também de uma relação de proximidade, de afectos, de ternura, porque durante os momentos mais marcantes da minha formação fui sempre tocado pelo seu incansável entusiasmo e, até, porque não dizê-lo, pelas suas utopias de sonhadora que, à sua maneira, acreditava numa sociedade melhor e mais equilibrada e justa.
É notável a maneira como o seu coração enorme de generosidade pôde transformar o rumo da vida de tantas pessoas com a sua convicção inabalável de filantropia e solidariedade. Sempre próxima das pessoas, sempre dedicada às causas, que defendia sempre de recta intenção, humanista e desinteressada…
Sem a sua influência directa, eu, como tanta gente, não seríamos, certamente, o que hoje somos. Pessoas!
A relação de proximidade com o nosso semelhante tornou-se em mim quase patológica, uma espécie de doença saudável que nos toma a mente e o corpo para toda a vida, foi-me por si transmitida. Uma vez mais foi culpada deste sentimento filantrópico, humanista e de afectos que pulsa em mim, por me demonstrar que o processo de aprender-mos a ser Pessoas é isso mesmo ou não será nunca mesmo nada…
Pessoas como minha Mãe são, infelizmente, cada vez mais raras. Nos dias de hoje já não vivemos pelo próximo épocas de paixão, de afectos, de amor, mas de um pragmatismo crescente, egoísta e mediático. Por isso imperioso se torna, aproveitar a sua dimensão humana, o seu saber, a sua sensibilidade e a sua percepção filantrópica e contagiar, o mais que pudermos, todos os outros. Estes factores, são fundamentais à formação do Homem como Pessoa, deixando marcas profundas e indeléveis que, desejavelmente, hão-de frutificar numa sociedade melhor.
Pessoas como a minha Mãe são, por isso, como crianças. São teimosas e não sabem mentir. São rigorosas nos princípios, por vezes incómodas, inconvenientes, mas também generosas, ternas e afectuosas, resistindo a quase tudo através dos tempos.
Obrigado Mãe, por nos teres dado a consciência de que um Homem pode vir a ser melhor, se lhe forem oferecidas possibilidades de chegar, algum dia, a compreender-se como um ser humano capaz, à semelhança de todos os outros.
Obrigado Mãe por seres quem foste, mas, sobretudo, por me teres ensinado a ser quem sou.
Um beijo do tamanho do mundo, de profunda e eterna gratidão por mim mas, principalmente, por todos aqueles que sem esperança tu apoiaste, desinteressadamente, com o teu enorme coração de ouro e a quem um dia ajudaste a serem alguém.
Obrigado minha Mãe!
Teu filho João, profundamente orgulhoso de ti!...
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