Obstetras dão a cara por decisão de encerrar blocos de partos
"A responsabilidade das indicações de encerramento é exclusivamente da Comissão Materno-Infantil. É a nós que devem pedir contas". A frase é de Octávio Cunha, da referida comissão, cujos elementos vieram ontem a público insistir na independência face ao poder político e no facto de se basearem em critérios técnico-científicos, sem esconderem o elogio à "coragem do ministro da Saúde" ao segui-los.
Numa sessão com jornalistas para a qual foram convidados obstetras e neonatologistas de anteriores comissões, o tom foi de "surpresa com a guerra" gerada pelo anunciado encerramento de 11 blocos de partos. Os especialistas recordaram que os critérios de centralização são há muito defendidos e apresentaram uma proposta de 2002 (sob tutela de Luís Filipe Pereira, no Governo de coligação) que apontava "exactamente as mesmas unidades". Discretamente sentado na assistência, durante parte do tempo que durou a conferência de imprensa, Correia de Campos não interveio e recusou-se a prestar declarações.
No capítulo da qualidade, foi duramente criticado um estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública e ontem divulgado pelo Diário de Notícias, segundo o qual as unidades a encerrar não são as que apresentam piores resultados
O estudo "compara o que é incomparável", dado que as unidades de referência atendem a larga maioria dos casos de risco, sustentaram. "O estudo é uma tolice", classificou Luís Graça, presidente do colégio de Obstetrícia da Ordem dos Médicos.
Quanto às dúvidas sobre o transporte de grávidas que agora ficarão mais longe dos blocos de partos, Carlos Peixoto assegurou que "existe uma equipa a trabalhar nesse plano" e sustentou que, com devida monitorização da gravidez, "todos os bebés irão nascer ao local certo".
Recordando o salto dado em 15 anos, ao longo dos quais Portugal se tornou o quarto ou sexto (consoante os indicadores) país com melhores resultados no mundo, o grupo de especialistas lançou um pedido ao estilo "deixem-nos trabalhar". "Ajudem-nos a conseguir que, com os mesmos recursos, 100% da população portuguesa tenha as mesmas garantias de qualidade", concluiu Carlos Peixoto.
In JN de 12/05/2006
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