sábado, março 07, 2009

“Quem com ferros mata com ferros morre”

ou o resultado da competição narco-tribal na Guiné-Bissau…

A história da Guiné-Bissau, bem como de muitos países africanos, está marcada por vários golpes e contra-golpes de Estado. Infelizmente, a Guiné-Bissau nunca conheceu até aos nossos dias uma era realmente democrática, que fosse representativa ou participativa. Desde a época em que acabou o colonialismo português, governou Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral e fundador do partido até 1980, data em que Nino depôs.

Em 1980, Nino após o golpe que levou à destituição do Presidente da República, assumia os cargos de secretário-geral do PAIGC e a Presidência da República. As consequências do golpe levaram ao fim do projecto de Amílcar Cabral, a união dos povos guineense e cabo-verdiano. Em 1984 foi aprovada uma nova Constituição e só em 1991 terminou a proibição dos partidos políticos.

Nino Vieira chegava assim ao poder num golpe de Estado na década de 80 e durante anos resistia a numerosas tentativas de golpe até ser forçado a sair do cargo quase 20 anos depois, exilando-se em Portugal. Com a saída forçada de Nino formava-se um governo de transição pelo líder da oposição, Kumba Yala, que chegava assim à presidência do Executivo, mas foi afastado em novo golpe de Estado no ano de 2003. Em 2005 voltava a haver eleições naquele pequeno país africano de expressão portuguesa. É nessa altura que Nino Vieira regressa do seu exílio em Portugal. Candidatando-se, nas eleições ganha outra vez a presidência que perdera anos antes

Entretanto a Guiné-Bissau transformava-se num ponto-chave para as rotas de cocaína vindas da América do Sul. A droga proveniente de alguns países da América do Sul é transportada em pequenos aviões sendo depois é dividida por dezenas de pequenos transportadores que a fazem chegar ao mercado Europeu de estupefacientes

A situação a que se chegou na Guiné-Bissau resume-se ao conflito entre os dois homens mais poderosos da Guiné-Bissau e inimigos de longa data. O conflito étnico existente entre Nino Vieira, (de etnia papel) e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Tagme na Waie, (de etnia balanta), maioritárias nas Forças Armadas guineenses, foi-se aprofundado cada vez mais, pois Waie era um dos oficiais Balanta que Nino Vieira tinha já elegido, há muito, como alvo principal a abater, numa vingança ao tribunal militar que o destitui do poder nos idos anos 80.

Este conflito tem agora o seu trágico epílogo com as sanguinárias mortes de ambos num autêntico acto, tribal e primitivo, de justiça cega de “olho por olho, dente por dente”.