A derradeira chamada para o último comboio do desenvolvimento - quem o não apanhar ficará definitivamente em terra!..
O tempo urge e não se compadece das lutas comezinhas pelas ”quintas politico-partidárias”, pelas afirmações pessoais de quem tem, ou deseja ter o poder. O importante é “descarregar”, aferindo em sumaríssimos julgamentos quem nos dá mais jeito; encontrando culpados de ocasião, alvos fáceis que no momento “estão ali mesmo à mão. Deste modo, o desporto nacional parece ser o de arranjar bodes expiatórios para as nossas frustrações e insucessos, pensando nós que desta forma aliviamos as nossas consciências, descarregando nas “vítimas” do costume, aquilo que nos vais na alma. Como bons “treinadores de bancada”, pouco nos importa reflectir se estamos a ser correctos, ou justos, o importante é ficarmos aliviados…Se em algum momento nos virmos “apertados”, basta apenas “chutarmos a bola para canto” ou, irresponsavelmente, assobiar olhando para o lado. Antes do mais, temos que ser capazes de acabar definitivamente com esta cultura de má-língua irresponsável que nunca afecta quem fala, penalizando apenas quem faz…
É tempo de agir rapidamente, de forma persistente e concertada no tempo, de encontro às metas previamente traçadas. Estamos fartos!...A verdade é que cada vez menos precisamos de ouvir o resultado das análises e promessas bacocas, feitas por políticos oportunistas e analistas irresponsáveis e pedantes, nem de ficar à espera de prometidos milagres de pseudo salvadores da Pátria. Precisamos sim é criar riqueza e tornar a nossa economia menos dependente dos ciclos económicos. Temos de melhorar e afirmar a nossa balança comercial, com maior percentagem de exportações em relação ao nosso PNB. É urgente acabar com os níveis escandalosos de evasão fiscal. É imperioso e de elementar justiça que os sacrificados do costume paguem um pouco menos e obtenham melhores serviços. É fundamental que a Justiça passe a funcionar de uma forma expedita e merecer a confiança dos cidadãos e agentes económicos. O prazo para a criação empresas tem de diminuir dos cerca de 134 dias de média, indicados pelo Banco Mundial no ano passado, para os valores próximos dos 2 a 4 dias, como acontece nos EUA ou no Canadá. Os empresários têm também que se preparar para aproveitarem a embalagem da globalização. A formação profissional tem que passar a ser uma prioridade quer nas empresas quer na administração pública.
A triste realidade do nosso atraso é que 50% da nossa população activa afirma que a formação e aprendizagem não interessa assim tanto. Na Europa dos 15, apenas 10% em média, tem esta mesma opinião. O Eurobarómetro realizado no início do ano passado para a União Europeia revela que 80% dos nossos activos não frequentou qualquer acção de formação profissional no ano de 2002. Mas é de temer que as estimativas sejam ainda bem piores, talvez para metade desses valores. Mas esta “desgraçeira” não acaba por aqui. Pois ao contrário do que se pretende, ou seja a convergência com a União Europeia, continuamos desgraçadamente o percurso imparável do nosso afastamento…
Assim, no desempenho económico dos últimos anos, Portugal passa de uma notável 6ª posição em 1999, para a 20ª posição em 2003. Na eficácia governativa, passámos da 14ª para a 16ª posição. Na eficácia empresarial, descemos brutalmente da 19ª posição em 1999 para a 29ª posição em 2003, ou seja a pior posição possível nesta classificação. E a nível das infraestruturas, o desempenho não foi melhor: da 19ª posição, passámos para a 28ª. Mas os piores resultados aparecem na Educação e na capacidade científica, ambas na 29ª posição. A Saúde e Ambiente, na 22ª posição, bem como a infraestrutura tecnológica na 26ª posição, implicam urgentes melhorias. Pior mesmo é difícil.
Temos inevitavelmente que melhorar a cooperação tecnológica entre as empresas, e entre estas e as universidades, diminuir obrigatoriamente os níveis de iliteracia económica na população activa, e melhorar toda a estrutura de ensino, desde o primeiro ciclo ao universitário. Definitivamente teremos que substituir a quantidade pela qualidade. A utilização das novas tecnologias da informação pela população activa deve ter como níveis de comparação o que se passa nos países mais avançados, como é o caso de países tão díspares como a Finlândia ou Singapura.
A verdade é que as empresas e os empresários portugueses precisam definitivamente de dar prioridade a alguns parâmetros de desenvolvimento, fixando objectivos anuais ambiciosos, pugnando activamente pelo seu cumprimento, tais como:
a) Aumentar a produtividade do capital. Sistematicamente as empresas portuguesas têm níveis de produtividade do capital, ou rentabilidade, inferiores aos seus concorrentes europeus actuando no nosso mercado. Isso faz com que os seus lucros sejam mais baixos. Sem lucros não há investimentos. Sem investimentos, as empresas não têm futuro. Precisamos de aumentar de forma sustentada a rentabilidade dos investimentos (os especialistas defendem valores na ordem de 10% ao ano, durante pelo menos cinco anos).
Este factor depende fundamentalmente da capacidade de liderança dos governantes, de gestores e empresários. Não se compadece, por exemplo, com um orçamento inicial previsto para o Centro Cultural de Belém de 8 milhões de contos, que se transformam escandalosamente em 40 milhões, sem consequências negativas para nenhum governante nem gestor. Depois do descalabro orçamental da EXPO, pago com elevados custos pelos contribuintes, repetindo-se o mesmo filme com a grosseira derrapagem orçamental dos acessos e estádios de futebol do EURO 2004, que todos nós suportámos. Nesta loucura, neste desvario irresponsável, é o país fica mais pobre e claramente menos competitivo. Basta de irresponsabilidade e do branqueamento dos verdadeiros responsáveis. Por motivos óbvios, temos ainda que travar também “a dança dos (maus) gestores públicos” que por mal gerir, são escandalosamente premiados, sendo um verdadeiro sorvedouro das finanças públicas. É tempo de gerir o país com visão estratégica, com lideranças responsáveis e de sucesso.
b) Aumentar a produtividade do trabalho, tanto na administração pública como nas empresas, esta questão é novamente um problema de liderança: multinacionais como a Opel, a Johnson Wax, a Auto-Europa, a indústria de componentes automóveis e outras, têm dos seus melhores índices de produtividade em Portugal, porque têm seguramente uma boa liderança. Aquela boa liderança que leva os trabalhadores portugueses a serem muito apreciados nos países europeus mais avançados tecnologicamente.
c) Conquistar novos mercados. Fixar este objectivo como prioritário. Em vez de investirmos em produtos e serviços que não têm forte concorrência, que não exportamos, temos de conquistar novos mercados. Espanha e, sobretudo, PALOP`S deveriam ser duas prioridades fundamentais. Segundo alguns economistas, seria desejável fazer um esforço para crescer nestes mercados pelo menos 10% ao ano, de forma sustentada; para isso acontecer seria indispensável uma aliança entre o Estado e as empresas nestes mercados, sacudindo complexos antigos de colonizados no primeiro caso, fazendo desaparecer a superioridade colonizadora no segundo, mas, sobretudo, premiar o cumprimento de objectivos de mercado previamente estabelecidos. Curiosamente, ainda há dias vimos na televisão a aventura de um empresário têxtil de Mira D`Aire que conseguiu conquistar um nicho de mercado para os seus produtos nos EUA, fabricando agora com sucesso mantas para a Disney e Playboy. O sucesso dará trabalho, mas é seguramente gratificante.
d) Dar prioridade à inovação. Dar ênfase à nossa massa cinzenta e à criatividade, quer em Portugal e até no estrangeiro. As nossas empresas têm de inovar a cada momento e, mais ainda, sempre que for necessário. Novos produtos e novos serviços de encontro às necessidades de mercado. Dar a devida importância a cada cliente desses mercados, quer em qualidade, quer em preço, surpreendendo a concorrência internacional. Dar lugar à nova geração de gestores, confiar nos jovens empresários, aproveitando o seu dinamismo e espírito criativo e inovador. Veja-se a dinâmica da ANJE e a internacionalização dos criadores portugueses na área da moda. (Portugal Fashion)
Uma política de bons salários (leia-se gratificantes). Em todas as empresas onde se cumpram estes quatro objectivos que definimos (aumento da produtividade e do capital, do trabalho, da conquista de novos mercados e inovação constante), os salários e os prémios aos trabalhadores têm de melhorar de forma significativa. A motivação é fundamental à prossecução dos objectivos. Não vamos a parte alguma com congelamento de salários. Mas também não vamos lá com aumentos automáticos e sistemáticos, sem melhoria da qualidade e do desempenho. Temos de dar um sinal claro que compensa trabalhar bem e alargarmos o nosso mercado interno, tornando a nossa economia mais forte e menos dependente das variações cíclicas das economias externas.
Se não inflectirmos rapidamente a situação vai seguramente piorar. Portugal pode ter graves problemas nos próximos dez anos com o alargamento da União Europeia. Muitos empresários serão tentados a um movimento de deslocalização para países do Leste e Centro Europeu, com pessoal muito mais bem preparado e salários mais baixos. Temos de reagir rapidamente, (o próximo quadro comunitário de apoio acaba no ano 2013) melhorando a qualificação da nossa população activa e insistindo em produtos e serviços de maior valor acrescentado, onde o salário tenha uma expressão reduzida em relação aos preços e aos custos finais de venda. A questão central é de liderança, tanto ao nível público como privado. Precisamos de líderes e gestores interessados no bem comum e com sonhos e visão de futuro para as suas organizações e o seu país que nos coloquem entre os melhores da Europa e não na sua cauda. Precisamos de relacionar os escandalosos benefícios de parte da nossa classe dirigente com a real contribuição das suas organizações para o valor acrescentado e a qualidade de vida.
Portugal pode ser até, no futuro, um país de vanguarda na Europa. Para isso tem de seguir o exemplo de cidadãos de eleição, como António Damásio, José Saramago, Maria João Pires, João Magueijo, José Mourinho (porque não?), entre muitos outros que souberam e conseguiram conquistar o seu lugar, não só em sectores científicos e tecnológicos, mas também em outras áreas do conhecimento e actividade, sendo com todo o mérito reconhecidos pelos seus pares. Trata-se de pessoas como todos nós, com desempenho excepcional, à custa de muito trabalho, estudo e investigação. São pessoas que condimentam a nossa existência e nos fazem sentir verdadeiramente orgulhosos.
Se verdadeiramente quisermos, a situação portuguesa pode melhorar substancialmente, com inteligência, trabalho e rigor. Por isso é imperioso lançar rapidamente a discussão, em debate alargado, a todas as áreas do tecido científico, tecnológico, económico e social português, sobre a melhoria de competitividade da economia portuguesa. É fundamental partilhar os dados, as reflexões, as ideias e as experiências de sucesso com os líderes e dirigentes deste país e procurar em comum as melhores soluções para o futuro, apostando em programas de formação inovadores para executivos, sob formas diferenciadas e adaptadas às diversas situações de forma a dar definitivamente o salto em frente; em direcção a um sucesso pensadamente construído, só possível por aqueles que amam verdadeiramente o país e que ainda têm orgulho em se sentir portugueses.
Só assim será possível levar Portugal aos desafios da modernidade. O nosso subdesenvolvimento não tem que ser desgraçadamente congénito. Já basta!...
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