terça-feira, fevereiro 28, 2006

"O Melhor Queijo do Mundo…"

Contrapondo à diminuição do número de pastores e de ovelhas bordaleiras não se verifica a tão necessária renovação e porquê? Porque é uma actividade absorvente a quase 24 horas por dia e, sobretudo, não é motivadora; pois não havendo uma justa valorização do produto não incentiva outros a dar continuidade a esta actividade ancestral. Por isso, são cada vez menos aqueles que se dedicam à actividade da pastorícia e fabrico do artesanal do queijo

Como sabemos, o Queijo da Serra é um produto, regional único, genuíno, inimitável, de extrema qualidade que tem proveniência muito específica de uma região limitada, sendo também limitada a sua produção. Tem por base o leite extraído da ovelha de raça bordaleira e a utilização de cardo moído com sal para a obtenção da coalhada, sendo posteriormente trabalhado, sem pressas, pelas mãos sábias e frias das experientes queijeiras. Dadas as suas características artesanais muito próprias do saber adquirido deve, também por isso, virar-se para mercados muito próprios, que saibam apreciá-lo e valorizá-lo na sua plenitude, reconhecendo assim as razões do seu elevado preço. Daí a necessidade da defesa da sua rigorosa certificação.

É nestes produtos específicos que deveremos continuar a apostar, denunciando as tentativas de imitação baratas que tentam impor-se no mercado globalizante de uma certa indústria turística que vai vivendo de expedientes e negócios de ocasião que, teimando em persistir, pode acabar por destruir as tentativas de construção séria de um turismo de elevada qualidade que vai dando os seus primeiros passos.

É este o caminho e não outro. É a qualidade dos produtos regionais genuínos que devem impor-se, em vez da promoção de produtos provenientes de produções massificadas, também elas com direito a espaço próprio, mas, naturalmente, noutro contexto e, portanto, nada de confusões.

As dificuldades que ainda é necessário vencer para aprovar projectos sérios, como por exemplo para montar uma queijaria, de acordo com os parâmetros exigidos por lei, verificamos um persistente excesso de burocracia na aprovação de novas unidades de produção e certificação deste produto singular. Lamentavelmente, ficamos com a sensação de que os processos continuam a ser deliberadamente lentos, pese embora a importância do licenciamento e certificação para quem produz, vende e compra queijo da marca Serra da Estrela, para a economia local.

O Queijo da Serra da Estrela é assim, por excelência a imagem de marca da nossa região, mas não será o único produto. Assim de repente estou a lembrar-me do requeijão, do pão de centeio, da broa de milho do vinho do Dão, do doce de abóbora do mel, da maçã de altitude, de sabor tão delicado, da castanha, da cereja, dos fumados, dos enchidos, do cabrito, do borrego e tantos outros produtos que poderiam ter a marca Serra da Estrela. Por isso é fundamental apostarmos também na qualidade e na dinamização do circuito comercial destes produtos, numa perspectiva turística sustentada, harmoniosamente integrada num turismo de altíssima qualidade que seja, (ao longo do ano) uma alternativa séria ao turismo sazonal, de verão, proporcionado pelos oitocentos quilómetros de costa.

Felizmente começam a chegar-nos ecos de alguma dinâmica, em iniciativas individuais, através do exemplo de algumas empresas, como é o caso da “Casa dos Queijos”, da Casa Matias” e dos “Queijos São Gião”, que começam a vencer o imobilismo burocrático quer os produtos se destinem ao mercado nacional, quer se destinem à exportação. Por tudo o que fica dito era capaz de ser interessante repensar estas feiras no seu todo, num projecto integrado, reunindo sinergias que possam catapultar a nossa região para outros voos visando o mercado global, mas apenas, pelo que vale a pena, ou seja a elevada qualidade e excelência dos produtos genuínos da Serra da Estrela.

sábado, fevereiro 25, 2006

O concerto de Maria João e Mário Laginha

Com o Cine-Teatro Jardim “a rebentar pelas costuras”, teve esta noite inicio o 2º Festival Internacional de Jazz e Blues de Seia, marcado pela fabulosa actuação da dupla Maria João/Mário Laginha.

O público presente pôde deliciar-se com um belíssimo concerto durante o qual, Maria João mostrou todos os recursos: a sua voz, a sua sensualidade e a sua admirável presença em palco, tendo interpretado muitas peças do seu variado repertório com uma voz versátil, prodigiosa e de extrema expressividade, respondendo aos sons emitidos pelo piano do companheiro, Mário Laginha, pianista e compositor de mão cheia; um dos mais talentosos e inovadores executantes portugueses de piano que eu já, alguma vez, ouvi tocar ao vivo.

Pudemos assim ter o privilégio de assistir a um concerto intimista em que este duo revelou, uma vez mais, a sua invulgar cumplicidade e onde o talento de ambos se complementa de forma harmoniosa, quase sublime.

Maria João e Mário Laginha, são como se fossem feitos um para o outro. Cada canção, cada música revelam momentos únicos de criatividade, beleza, fantasia e emoção partilhada. O público que atenta em silêncio a constante inovação do som produzido pelo piano do Mário e elasticidade sonora da voz da Maria, confirma que estes são capazes de surpreender a cada momento, com a definição de um estilo muito próprio e uma extraordinária diversidade que encaixam perfeitamente um no outro.

As suas músicas encontram-se também na originalidade da interpretação revelando a influência sonora de várias latitudes e itinerâncias com preponderância para a música africana e, sobretudo, brasileira, (chorinho, samba e bossa nova) por onde passam os sons e os ritmos de sabor tropical adaptados e uma rara capacidade de integrar diferentes estilos a uma matriz de jazz, leve e de fácil audição ao numeroso público presente.

A organização deste Festival Internacional de Jazz e Blues de Seia está assim de parabéns por tão auspicioso início.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Zeca Afonso, o exemplo do lutador inconformado


Fez hoje, dia 23 de Fevereiro, 19 anos que morreu José Afonso, uma das figuras mais míticas da luta contra o fascismo.

Nasceu em 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Se fosse vivo, teria feito, 75 anos.

O Zeca Afonso foi uma das figuras mais marcantes da canção de intervenção em Portugal. Desde os anos 50 que desempenhou um papel notável no combate à ditadura e opressão através do canto e da poesia. Cultivou vários géneros poéticos musicados, desde o fado à canção popular, transformando a letra e a música em mensagens.

Compositor de mão cheia, soube conciliar a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto. Zeca Afonso caminhou, sem vacilar, um percurso de coerência. Recusou sempre o caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo, na denúncia dos oportunistas, dos "Vampiros" que destroçaram Abril, no canto da cidade sem muros nem ameias, o socialismo, da "Utopia".

Cantou a liberdade num país onde a mordaça da censura calava vozes de contestação ao regime. Como outros, foi perseguido pelos vampiros do sistema, ao assumir-se declaradamente como antifascista.

A infância repartiu-se entre Aveiro, Angola, Moçambique e Coimbra, devido às sucessivas deslocações profissionais do pai.

Em 1958 gravou o seu primeiro disco «Baladas de Coimbra». Em simultâneo acompanhava o movimento que apoiava Humberto Delgado à Presidência.

Em 1964, deslocou-se para Moçambique, onde deu aulas de História no Liceu da Beira. Foi observador atento e sensível à realidade de então, que contou, cantando: “Bairro Negro” e “Lá no Xepangara”, são exemplos que traduzem bem a sua lucidez e coragem de afrontar a ditadura, afirmando o seu anticolonialismo.

Regressado a Portugal tornou-se um dos símbolos da resistência ao regime, imparável na construção de um repertório de música de intervenção, alimentando assim, a crescente onda de insatisfeitos que o ouviam na clandestinidade e o cantavam em reuniões privadas.

A sua canção “Grândola Vila Morena”, tornou-se um dos símbolos da Revolução de Abril, onde as expressões, Terra da fraternidadeEm cada rosto igualdadeO povo é quem mais ordena, surgiam como palavras de ordem e mensagens de esperança.

Tenho orgulho em ter assistido em 1983, no seu último concerto no Coliseu de Lisboa. Neste concerto, o “Zeca”, dizia o adeus a todos aqueles que lhe reconheciam a arte, a coragem, a dignidade, a grandeza... Viria a morrer em Setúbal, quatro anos mais tarde em 1987.

Apesar de nos ter deixado fisicamente, o Zeca continua presente em muitos de nós e imortalizado pela História contemporânea de Portugal. Além do respeito pela sua memória agradecemos-lhe o seu percurso e o verdadeiro exemplo do lutador inconformado pela causa da Liberdade e da Democracia.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Pela Liberdade de Expressão

A Liberdade de Expressão é um valor Universal indiscutível numa Cultura Ocidental, de cidadãos livres, vivida em Democracia e Liberdade. A quem concorde e queira subscrever o Manifesto: "como uma liberdade", basta clicar no [link-manifesto]

sábado, fevereiro 11, 2006

Lei da Separação da Igreja do Estado de 20 de Abril de 1911

"O Estado nada tem com o que cada um pensa acerca da religião. O Estado não pode ofender a liberdade de cada qual, violentando-o a pensar desta ou daquela maneira em matéria religiosa."

Afonso Costa, in "A Igreja e a Questão Social" (1895)

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Quem deseja afinal provocar o choque civilizacional?

Como poderá ser comprovado no Blog egípcio Sandmonkey, os “cartoons” da discórdia já tinham sido publicados há quatro meses atrás, ou seja, durante o mês sagrado do Ramadão, em Outubro de 2005, no jornal egípcio Al Fagr, (que tem uma circulação respeitável no Egito) não tendo havido qualquer revolta. Estranho é que ninguém daquele país muçulmano pensou por um momento em boicotar, nem o jornal, nem o país (Egipto) e os seus produtos e muito menos lançar fogo às suas representações diplomáticas. Estranho mesmo é quando as mesmas “charges” foram publicadas num jornal dinamarquês... deu no que deu.


Segundo Sandmonkey "eles provaram novamente que o mundo árabe é retardado e não merece nada melhor que os líderes que têm". Ver também o blog Freedom for Egyptians

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Será inevitável o Choque Civilizacional?

A Liberdade é uma característica fundamental à vida democrática da Civilização Ocidental. Foi um inestimável legado da Antiguidade Clássica, através dos Gregos, os nossos verdadeiros pais culturais. Mas a Liberdade, (sensação tão recente para os portugueses) continua ameaçada, na actualidade, devido às mais variadas vicissitudes, (politicas e económicas e, incrivelmente, religiosas), como também a tornar-se, num bem cada vez mais escasso em outras latitudes.

Estávamos longe de imaginar que na Europa Democrática, do século XXI, a Liberdade, nomeadamente, a liberdade de expressão, poderia ser colocada em causa, ameaçada pelo medo e coarctada pelo fanatismo religioso. A Liberdade, além de um desiderato fundamental dos regimes democráticos, é a principal responsável pela evolutiva capacidade criadora, o verdadeiro motor da nossa Civilização, por isso, precisa mais é de quem a defenda.

Já tínhamos na memória longínqua o trauma das perseguições da Santa Inquisição que ainda hoje nos envergonham, ou, mais recentemente, a celeuma levantada a um preservativo colocado no nariz de João Paulo II, pelo cartoonista António, como temos ainda, em presença, a sentença de morte ao autor dos versículos satânicos, Salmon Rushdie, (também ele muçulmano), ou até, a morte de um cineasta-realizador holandês por um fanático islamita. Os fanáticos muçulmanos, como os católicos fanáticos ou os fanáticos de outras confissões, deveriam compreender que a verdadeira falta de respeito é imporem-se aos que pensam de forma diferente. A minha opinião pessoal é que os “cartoons” da polémica não são ofensivos, particularmente se comparados com as caricaturas que circulam mostrando os mais variados políticos mundiais e nacionais, como ainda os Budas, Papas ou Jesus.

Por falar em Budas… O que será comparar inofensivos, “cartoons” com a destruição, a dinamite, dos Budas gigantes que há mais de 1.500 anos, dominavam o vale de Bamiyan, pelos fundamentalistas islâmicos, talibans? Estes sim, cometeram um crime tão hediondo como irreparável.

Destruíram não só parte da memória do Afeganistão, como também um testemunho, notável e excepcional do encontro Civilizações do Oriente e do Ocidente corporizada por Alexandre Magno que notavelmente teria sido o primeiro governante a ter uma visão Universalista do mundo, à medida que se deslocava (conquistava) para leste e contactava com a diversidade daqueles que passavam também a ser seus súbditos. Esta visão de um mundo global só tornaria a ser entendida, já no Renascimento, pelos portugueses, a partir da epopeia das Descobertas.

Como é possível destruir assim um Património pertencente à Humanidade e classificado pela UNESCO? E não é que esse crime civilizacional foi cometido em nome do Islão da religião e do profeta Maomé continua impune? O que fizeram todos aqueles islamitas moderados que diziam não concordar com esta atitude gratuita, imbecil, tão troglodita como estúpida? Manifestaram-se também ruidosamente? Não há palavras!... Seguramente que todos nós poderemos analisar e julgar comparando a dimensão daquele crime e aquilo que na actualidade está em verdadeiramente em causa…

Tudo isto, talvez devido aos traumas de uma cultura árabe falhada que foi brilhante em várias áreas do saber. Já no século VII, tinha escolas e universidades onde se estudava: Astronomia, Geografia, Matemática - os algarismos, o sistema decimal e a álgebra – adoptados e utilizados por nós ainda nos dias de hoje; mas também a Medicina com o conhecimento e descrição de doenças, a Química, (álcool e ácido sulfúrico), Poesia, Contos, Filosofia e na Arquitectura fabulosa: grandiosos palácios, mesquitas, arco em ferradura, cúpula, coluna, pórtico, pátio-jardim interior, decoração geométrica e estilizada, utilizando tal como os egípcios, a escrita como elemento decorativo, arabescos e rendilhado em relevo muito original. Foi também brilhante na Agricultura: novas culturas e árvores de fruto e novos instrumentos agrícolas como a nora e novas técnicas de irrigação. Artesanato de vidro, papel, cerâmica, construção naval, instrumentos náuticos e tantas outras actividades.

Após as Cruzadas, em nome da Fé Cristã e à Reconquista que se lhe seguiu, a brilhante Cultura Árabe regrediu tanto que quase desapareceu, quedando-se na época medieval, dando lugar exclusivamente à religiosidade divulgada pelo profeta Maomé que apesar de unir a família Islâmica, sufocou-a de quase tudo o resto.

Será que o choque de civilizações está debaixo dos nossos olhos sem que o queiramos reconhecer? Talvez por não querermos admitir a nossa própria responsabilidade, (os árabes nunca digeriram as Cruzadas) no germinar dos medos que degeneram inevitavelmente em terror.

Que estes fundamentalistas fanáticos queiram impor uma cultura medieval a todo o Islão é um problema deles, agora quererem impedir aos outros, o livre exercício de Liberdade é demais. Os muçulmanos, como os católicos ou outros, devem compreender, de uma vez por todas, que a verdadeira falta de respeito é impor os seus tabus, crenças e fobias a todos os outros.

Os meus valores são “Ocidentais”, seja lá o que for que isso signifique exactamente, com toda a carga judaico-cristã que isso acarreta, (embora os laicistas prefiram muitas vezes enfiar a cabeça na areia) é por esses valores da Democracia, da Liberdade e as causas que lhe estão inerentes que eu luto para que me possa sentir sempre como um cidadão livre, de um mundo livre regulado pela Lei e pelo Direito.

Os fanáticos fundamentalistas só conhecem o ódio. Não se apercebem que são, em si mesmo, os piores inimigos do seu próprio povo. O importante é não nos deixarmos contaminar pelo seu ódio porque este se alimenta de si próprios. Por isso mesmo, jamais poderia, ficar calado mediante semelhante ignomínia, apesar de entender também que não é momento de promover maior chama na fogueira que já arde em labareda alta.

No meu país e nos países livres do “mundo ocidental”, os muçulmanos, (e todos as outras confissões) beneficiam de uma liberdade que alguma outra confissão teve ou algum dia virá a ter nos países muçulmanos. Defendo que os muçulmanos continuem a viver aqui, a liberdade que muito provavelmente não têm nos seus países; é bom saber que deste lado têm toda a Liberdade de se reencontrarem e reencontrarem (se o entenderem) a sua própria identidade cultural.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

In memoriam de minha Mãe – 27 de Janeiro de 2006

Se existe pessoa que nos marca definitiva e indelevelmente, essa pessoa é a nossa Mãe!

Ela é, seguramente, a primeira pessoa da lista que marcará para sempre os filhos, bem antes de todas as outras que se lhe hão-de seguir. Tanto que, por vezes, até nos esquecemos que a sua influência permanece latente em nós e está sempre presente, habitando o mais profundo do nosso “ser”, bem lá no inconsciente, brotando espontânea e naturalmente, a cada pensamento, sem esforço de nós próprios, a cada momento, a cada atitude, a cada decisão, dando origem a tudo aquilo em que nos tornamos e a forma como vemos as coisas que nos rodeiam.

Lembrar a minha Mãe é trazer à superfície do meu “eu” tudo aquilo que fez parte do meu processo de aprendizagem, no início da minha vida, na minha infância, até à adolescência; como, também, posteriormente, na concepção que marcou a minha idade adulta e o meu projecto de vida: os Valores, a Moral, o modo de ver as coisas que marcaram a minha maneira de ser como elemento individual e também como elemento dum colectivo tão heterogéneo, e por vezes tão desequilibrado, do qual hoje faço parte.

Nestes momentos as palavras tornam-se difíceis. É complicado nesta hora dizer qualquer coisa, apesar disso quero recordar as inumeráveis coisas simples, mas tão importantes, quanto significativas que a minha Mãe sempre indicou; são elas que me preenchem o pensamento, nestes primeiros momentos da sua ausência, sufocadas pelo incómodo silêncio que um enorme vazio me traz à lembrança.

O seu pensamento e atitude perante a Vida marcaram em mim a fórmula equilibrada entre razão, emoção, dever e só por fim os direitos, que desde sempre orientaram a minha atitude em relação aos outros, como também a mim próprio.

Posso dizer que no essencial de mim lhe devo quase tudo que sou. Dela dependeu uma educação rigorosa, mas também de uma relação de proximidade, de afectos, de ternura, porque durante os momentos mais marcantes da minha formação fui sempre tocado pelo seu incansável entusiasmo e, até, porque não dizê-lo, pelas suas utopias de sonhadora que, à sua maneira, acreditava numa sociedade melhor e mais equilibrada e justa.

É notável a maneira como o seu coração enorme de generosidade pôde transformar o rumo da vida de tantas pessoas com a sua convicção inabalável de filantropia e solidariedade. Sempre próxima das pessoas, sempre dedicada às causas, que defendia sempre de recta intenção, humanista e desinteressada…

Sem a sua influência directa, eu, como tanta gente, não seríamos, certamente, o que hoje somos. Pessoas!

A relação de proximidade com o nosso semelhante tornou-se em mim quase patológica, uma espécie de doença saudável que nos toma a mente e o corpo para toda a vida, foi-me por si transmitida. Uma vez mais foi culpada deste sentimento filantrópico, humanista e de afectos que pulsa em mim, por me demonstrar que o processo de aprender-mos a ser Pessoas é isso mesmo ou não será nunca mesmo nada…

Pessoas como minha Mãe são, infelizmente, cada vez mais raras. Nos dias de hoje já não vivemos pelo próximo épocas de paixão, de afectos, de amor, mas de um pragmatismo crescente, egoísta e mediático. Por isso imperioso se torna, aproveitar a sua dimensão humana, o seu saber, a sua sensibilidade e a sua percepção filantrópica e contagiar, o mais que pudermos, todos os outros. Estes factores, são fundamentais à formação do Homem como Pessoa, deixando marcas profundas e indeléveis que, desejavelmente, hão-de frutificar numa sociedade melhor.

Pessoas como a minha Mãe são, por isso, como crianças. São teimosas e não sabem mentir. São rigorosas nos princípios, por vezes incómodas, inconvenientes, mas também generosas, ternas e afectuosas, resistindo a quase tudo através dos tempos.

Obrigado Mãe, por nos teres dado a consciência de que um Homem pode vir a ser melhor, se lhe forem oferecidas possibilidades de chegar, algum dia, a compreender-se como um ser humano capaz, à semelhança de todos os outros.

Obrigado Mãe por seres quem foste, mas, sobretudo, por me teres ensinado a ser quem sou.

Um beijo do tamanho do mundo, de profunda e eterna gratidão por mim mas, principalmente, por todos aqueles que sem esperança tu apoiaste, desinteressadamente, com o teu enorme coração de ouro e a quem um dia ajudaste a serem alguém.

Obrigado minha Mãe!

Teu filho João, profundamente orgulhoso de ti!...