segunda-feira, julho 11, 2005

A TAREFA CICLÓPICA DE MARQUES MENDES

Na semana que passou assistimos a uma versão muito feia de populismo de mau gosto que alimenta perigosamente os mais básicos sentimentos xenófobos e racistas.
É com alguma regularidade que Alberto João Jardim, disparatadamente, dispara lá da “sua Ilha” alguns morteiros com o intuito de atingir alvos predeterminados, preferencialmente no continente.
Só que desta vez decidiu mostrar o seu truculento protagonismo através da sua costeleta xenófoba, atacando com a sua artilharia pesada os chineses e indianos imigrantes na Ilha. Pessoas como ele, gente anónima, gente nascida noutro continente que Jardim não quer ver na Madeira. As pessoas que ele atacou, (quer se queira ou não - quer se goste ou não) trabalham, no dia-a-dia, sobretudo no auto emprego, concorrendo no recente e legal Mercado Global, à imagem e exemplo daquilo que desde há muito os emigrantes madeirenses vêm fazendo nos mais diversos países do mundo, nomeadamente na África do Sul, Estados Unidos e Venezuela, onde se estabeleceram, fundamentalmente, com os seus pequenos comércios.
Sabendo antecipadamente que poderá dizer o que lhe vem à cabeça sem nada lhe acontecer, Alberto João Jardim define previamente a sua estratégia do modo que entende mais adequado, porque sabe que independentemente daquilo que disser é atentamente escutado e talvez até temido, não só pelos órgãos de soberania, mas, sobretudo, pela Direcção do seu próprio partido. O estatuto de inimputabilidade que foi adquirindo ao longo dos anos e que usufrui na sociedade política, justifica-se pela cumplicidade que esta figura recebe dos seus pares. O silêncio e o conformismo da classe política (com algumas – poucas - excepções) sustentam o péssimo exemplo institucional, para quem, por ignorância ou simples medo, segue este modelo acabado de boçalidade.
Apesar de ser membro do Conselho de Estado o Presidente da República, (também já falta pouco para sair) mantém-se em silêncio, distante e conformado. O Ministério Público que deveria intervir, também não se preocupa com a incidência das palavras proferidas.
O PSD que dá os primeiros passos num recente processo de mudança da sua liderança, não só por isso, mas, sobretudo por isso, é no mínimo exigível ao seu líder, Luís Marques Mendes demarcar-se dos dislates e boçalidade do ilhéu, continuando uma dinâmica consubstanciada no afastamento de algumas figuras, repetindo a argumentação usada para afastar Valentim Loureiro, no mesmo princípio de transparência e da imagem de credibilidade que o novo PSD deseja, no futuro, para o seu partido. Neste sentido, Marques Mendes, terá naturalmente de se obrigar a ser consequente! O não retirar a confiança política a Alberto João Jardim, como fez com Valentim Loureiro, coloca em causa a sua própria credibilidade de líder do maior partido da oposição.
Reconheço que reagir a todo este desmando de Alberto João Jardim deve ser uma tarefa ciclópica, mas em nome de princípios não é possível ao líder do partido abdicar dela sem o que poderá comprometer gravemente a credibilidade da sua recente liderança. Este poderia ser o grande momento de afirmação do líder do PSD.

Desde sempre, os grandes líderes se revelaram nos grandes momentos!...

sexta-feira, julho 08, 2005

UM PAÍS COM RECURSOS – ENERGÉTICOS – À ESPERA DUM ABANÃO TECNOLÓGICO…

UM PAÍS COM MUITOS RECURSOS – ENERGÉTICOS – À ESPERA DUM ABANÃO TECNOLÓGICO…
A era dos recursos energéticos fósseis, está à beira da extinção, tendo mesmo os dias contados. E, se na melhor das hipóteses possamos ter 200 ou 300 anos de crude, o que na escala de uma vida singular, significa algum tempo, à escala do legado humano no planeta significa quase nada!
O Petróleo essa energia fóssil, cara e poluente, foi até agora alimentando abundantemente os cofres dos países que o produzem (OPEP), garantindo ao mesmo tempo as receitas das finanças públicas dos governos ocidentais que o consomem e, sobretudo, fazendo as delícias das grandes multinacionais de combustíveis, a quem nunca interessou o desenvolvimento de recursos energéticos alternativos.
Durante muitos anos e por força dos elevados interesses ligados à situação, este conjunto de interesses mútuos funcionou em pleno, alimentando este estado de coisas em círculo fechado, numa verdadeira simbiose, na qual as partes saíam beneficiadas. De repente, a forma abrupta como os preços do petróleo dispararam nos últimos meses, fez abanar a ordem instituída. Assim, independentemente da voracidade do crescimento chinês e dos fenómenos associados à especulação, podemos ter por garantido que terminou a era do petróleo abundante e acessível. Agora torna-se imperioso que as nações desenvolvidas encontrem outras formas de produção de energia que as libertem da pressão esmagadora dos preços do petróleo.
É urgente desencadear uma nova atitude das pessoas relativamente à conservação dos recursos energéticos, é fundamental caminharmos para novas e pensadas, formas de construção da habitação, que evitem o desperdício energético (quer no verão, quer no Inverno). Temos por isso que repensar inteligentemente não só a habitação como também os transportes diários nas nossas cidades. É imperioso estabelecer em cada um de nós um novo modus vivendi para fazer face aos recursos num futuro muito próximo.
As energias alternativas, cuja promoção é consagrada no Protocolo de Quioto, são a única via energética a explorar no futuro, com a enorme vantagem de serem formas de energia limpas. E nós temos muitos factores de produção energética que outros gostariam de ter: temos vento, temos sol temos mar, temos floresta (por enquanto) e, não chegando, temos ainda urânio em abundância que alimenta a produção de energia nuclear. Porquê a energia nuclear? Sobretudo porque é uma energia limpa, mais barata e actualmente com riscos diminutos decorrentes do avanço tecnológico e científico. Será seguramente a via para a qual os cidadãos das economias ocidentais terão que olhar, sem complexos ecológicos fundamentalistas, dos tais que pensam na preservação de todas as espécies, menos na humana. Quem não se recorda da gritaria contra as gravuras da barragem do Côa, da colónia de pássaros que impediam avançar a auto-estrada do sul, a construção da barragem da Aguieira, recentemente do Alqueva e da Ponte Vasco da Gama, entre tantas outras?
Por isso, de imediato é de esperar a habitual gritaria dos fundamentalistas do ambiente, porque a palavra "nuclear" continua a ser um receio instituído, fácil de agitar, mas neste momento o mundo parece não ter alternativa e, claro, os portugueses também não! Até porque, além de possuirmos mesmo aqui ao lado as centrais nucleares espanholas, há muito que importamos e consumimos energia eléctrica, (cerca de 30%) proveniente do nuclear, venha ela de França ou de Espanha, sem que os ambientalistas se preocupem com este facto!...
Apesar do espectro negativo que habita na nossa memória colectiva, relativamente aos acidentes de Chernobyl ou Three Milles Island, não há que ter receio da tecnologia do actual nuclear. Felizmente que nem tudo tem estado parado a nível da investigação cientifica e tecnológica nesta área. Há novas tecnologias, novos processos, que de futuro utilizarão a fusão de núcleos de átomos de hidrogénio e que se assemelha à forma de produção de energia do Sol que visa substituir o processo tradicional da fissão nuclear, eliminando os seus riscos. Esta futura capacidade de produção de energia é infinitamente superior à tecnologia tradicional. Assim, dentro de 20 a 30 anos, um quilo de combustível para produzir energia por fusão equivale a dez milhões de quilos necessários para obter a mesma quantidade de energia com combustíveis fósseis. Os resíduos produzidos são insignificantes.
O regresso à opção nuclear não tem assim alternativa. Estamos dependentes das barragens, do petróleo, do carvão e do gás natural. Quanto às centrais hídricas, já atingimos praticamente o limite. As centrais térmicas a carvão e a fuel são altamente poluentes (Sines é, por exemplo, a central térmica mais poluidora da Europa, em termos absolutos). Restam as centrais térmicas a gás natural, menos poluentes que as anteriores. Há actualmente um programa de reconversão de centrais térmicas para gás natural que visa reduzir os níveis de poluição que elas provocam. Quanto às energias renováveis, actualmente a única que parece ter alguma viabilidade prática (no sentido de poder ter algum significado) é a eólica, parecendo existir uma verdadeira vontade, numa aposta clara num programa nacional para a sua utilização em larga escala. No entanto, esta opção parece não resolver os problemas energéticos decorrentes ao necessário crescimento que se pretende atingir em Portugal. O gás natural constitui uma opção que nos deixa, totalmente dependentes dos países Árabes. Daí poder concluir-se que é inevitável o ressurgimento da opção nuclear. Portugal, que é o país com maior dependência energética na União Europeia, terá que encarar, mais cedo ou mais tarde, a produção de energia nuclear, (tendo a vantagem de possuir a matéria prima em abundância) sob pena de não poder competir, nos custos de um dos principais factores de produção, com os países com os quais economicamente se relaciona, nomeadamente a Espanha, com a vantagem de poder equilibrar definitivamente a nossa balança de pagamentos.
Assim, na semana que passou houve duas boas notícias na alternativa energética. Uma é a assinatura do acordo, entre a União Europeia, a Rússia, a China, os EUA, o Japão e a Coreia do Sul para produzirem o maior reactor de fusão nuclear (Reactor Internacional Termonuclear Experimental), a outra é que o ex-accionista da Galp, Patrick Monteiro de Barros, tem vindo a dar visibilidade a um projecto nuclear. Segundo o jornal “O Público”, este investidor defende que o país só conquista a sua "independência energética se construir três centrais nucleares". Seria bom que desta vez, assistíssemos a um verdadeiro abanão tecnológico, sem complexos, aproveitando as correntes favoráveis de quem pretende investir, à semelhança da opção energética finlandesa que tantas vezes nos é apontada como o paradigma de desenvolvimento…

Pois, eu sei que é injusto, os espanhóis jogam com Baltasar Garçon!...

Sabendo nós que os nossos vizinhos espanhóis estavam bem pior que nós aquando da nossa entrada na então Comunidade Económica Europeia, sabemos também que neste momento continuam bem longe de nós, só que agora, bem à nossa frente! Neste sentido gostaria que partilhassem comigo o “desabafo” de uma Sra. chamada, D. Odete Pinto que, com a devida vénia, aqui publico, partilhando convosco a reflexão conjunta do seu conteúdo. Atente-se pois:


“Só posso estar grata a Espanha por ter acolhido tão bem um dos meus filhos e três netos.
De facto o meu filho, arquitecto de software, estudioso, dedicado a 1000%, ficou desempregado na sequência de mais uma falência à custa de compras de moradias de luxo e outros bens pessoais para os sócios da empresa.
Como já não podia pagar o colégio das crianças, tentei arranjar vaga na escola oficial em frente da casa dele. Não havia vagas. Até que tive que falar com a Directora, lavada em lágrimas, pedindo que aceitasse os meus netos porque o meu filho estava desempregado e a prestação da casa era alta.
Pouco tempo depois, disse-lhe: filho, vai-te embora deste país enquanto as crianças não estão na escola primária.
Com o curriculum na Internet foi convidado por uma empresa americana em Madrid, para onde foi viver e eu, que falo espanhol fui ajudar a tratar da papelada.
Nunca lá ouvi falar em professores com a "casa às costas" durante 15/20 anos. Como é que os outros países mais próximos de nós resolvem o assunto?
E quem diz o ensino diz muitos outros temas como a saúde.
Só sei que cheguei a Sta. Eugénia, em Madrid, para fazer a inscrição no centro de saúde e perguntaram-me se queria a consulta para dali a 30 minutos. Não há senhas e muito menos bichas. Não há taxas moderadoras. Os reformados não pagam remédios. Além disso, nos centros de saúde fazem-se análises, electro-cardiogramas e nalguns até radiografias. Os centros de saúde estão abertos ao sábado e há consultas médicas no domicílio.
De facto, não há abono de família mas, como as necessidades básicas são asseguradas eficazmente, sendo até os medicamentos muito mais baratos, o abono de família (que deve "consumir" muitos funcionários públicos) não faz falta.
Como não há sigilo bancário, entregamos o assunto de IRS ao nosso Banco e está o caso arrumado. Ninguém anda a coleccionar facturas de farmácia e quejandos.
Há uma grande diferença, porém. Antes da inscrição formal no centro de saúde, temos que apresentar o comprovativo do recenseamento - fundamental para planificar até as vagas nas escolas).
Também o recenseamento e o registo na "polícia de estrangeiros" ou na Segurança Social é fácil: um/a funcionário/a (não é porteiro) está à porta e pergunta-nos o que precisamos. Dá-nos os formulários (muito simples) e indica-nos onde seremos recebidos.
Tudo isto sem senhas, nem bichas e sem lojas do cidadão. Algum tempo depois recebemos o DNI (documento nacional de identificação) onde, além do respectivo número, consta ainda o nº de contribuinte, o nº de eleitor e o da segurança social.
Foi com grande aflição que insisti, em princípios de Agosto 2004, que tinha de matricular 2 crianças na pré-primária e 1 na primária. Sempre me disseram, admirados com a minha incredulidade, que não me preocupasse - a partir de 1 de Setembro tudo estaria resolvido, visto que o recenseamento estava feito.
E assim foi. No dia 13 de Set. 2004, as crianças começaram as aulas, sem problemas. O "sistema" espanhol parece preferir tratar bem os cidadãos e tudo fazer para lhes simplificar a vida para que eles produzam mais para o país.
Resumindo, tudo somado e ponderado, o cidadão sente-se bem tratado e obviamente cumpre com satisfação os seus deveres de cidadania - porque, além do mais, os percebe com clareza.
Num país a sério, o interesse do país e dos cidadãos são o público-alvo de todas as legislações, regulamentações e práticas. Afinal, o exemplo vem sempre 'de cima'. É preciso que o cidadão conte! e não "alguns" cidadãos.
Pergunto: a Espanha está na bancarrota? Os Serviços de Saúde e de Educação espanhóis estão falidos? É só em Portugal que se gastam milhões com os ingratos cidadãos?”


Reflexão: importante seria então analisarmos e reflectirmos o caso Português!... Porque é que estamos pior? O que se passou desde então? Onde falhámos, quem são e onde param os responsáveis pelas aplicação das políticas desenvolvimento económico, da educação, da saúde, segurança social, da justiça, etc? Quais as consequências da sua má gestão e negligência? Num país sem recursos, (excepto os bancos…) porquê reformas douradas dos políticos e gestores públicos, responsáveis por toda esta desgovernação? E a alta (e imoral) qualidade de vida dos pseudo-empresários e outras “esponjas absorventes” dos fundos europeus para o desenvolvimento, em proveito próprio? Não seria fundamental moralizar a Sociedade Portuguesa julgando os verdadeiros responsáveis pela nossa regressão? E com que Justiça?
Pois, eu sei que é injusto, os espanhóis jogam com Baltasar Garçon!...