sexta-feira, outubro 15, 2004

O ESTADO DAS COISAS COM AS COISAS NESTE ESTADO

1. Quem não tem, não gasta o que não tem
O ministro Bagão Félix, veio anunciar ao país o que já se suspeitava: que isto está falido e que vai piorar. Ao fim de dois anos e tal de austeridade, os cofres continuam na penúria. Anuncia os aumentos, restrições e políticas de austeridade. Pede sacrifícios e a moralização do Estado e da coisa pública como a prioridade financeira para pôr as contas em dia. Quem não tem, não gasta o que não tem.
Concordamos que o país necessita de austeridade financeira. Sabemos que o Estado não se comporta bem, e o país até talvez esteja disposto a aguentar mais um aperto nos furos no cinto. As taxas moderadoras na Saúde, a subida nos transportes, nos combustíveis e o desaparecimento dos benefícios fiscais, irão, (como é hábito) buscar o dinheiro de que o Estado precisa, aos bolsos semi-vazios da classe média. Com a fuga fiscal descarada, a classe média continua a ser o pilar do Orçamento de Estado.
O Governo, tem que começar por dar o exemplo e a imagem de um Estado mais justo e mais bem administrado pelos políticos que o servem. Ora a “obscenidade” em torno da escandalosa reforma de Mira Amaral, depois de apenas um ano e meio de serviço na Caixa Geral de Depósitos, dezoito mil euros, e a vergonhosa nomeação de puro favorecimento político da “pp-girl” e ex-ministra da Justiça Celeste Cardona, a troco de dezassete mil euros/mês, vem contrariar tudo o que o “honesto” ministro Bagão, incomodamente anunciou.
Afinal de contas, a Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado Português, é uma instituição que se destina apenas a compensar o desemprego de políticos e vagas para os amigos, cujo critério é remunerar quem saiu da política activa, com uma tença definitiva. FRANCAMENTE!...
Assim sendo, que moralidade terá Bagão Félix depois de dar cobertura ao “tacho” da sua colega de partido. Resta-nos depositar na CGD as nossas depauperadas poupanças.

2. Colocação de professores – não é uma boa desculpa que indemniza prejuízos…
Seria preferível que a Sra. Ministra da Educação não se tivesse comprometido com nenhuma data, porque a dada altura já toda a gente se tinha apercebido que havia um problema complicado de resolver... Num processo mais conturbado do que nunca, os cerca de 50 mil candidatos ainda envolvidos no concurso de professores voltaram a viver a angústia da incerteza e desespero das famílias.
Sobre o que correu mal no concurso, é preciso apurar responsabilidades de todos os intervenientes no processo. Apesar de ser prioritário encontrar rapidamente soluções para as escolas funcionarem normalmente, é fundamental serem apuradas as responsabilidades, até às últimas consequências, naquilo que foi um péssimo exemplo na credibilidade do Estado.
Apesar do Governo, envergonhado, ter decidido criar mais uma comissão de inquérito (ainda não se sabem os resultados da última Comissão, criada em Maio passado) para apurar responsabilidades no processo, é de lamentar que a maioria tivesse chumbado no Parlamento, a Casa da Democracia a proposta de um inquérito parlamentar, da oposição, que reconhecidamente tem competência proceder à fiscalização do Governo.
Enfim, salva-se o facto do governo ter reconhecido finalmente o seu erro e, pela voz do ministro Morais Sarmento, em declarações à Televisão, ter pedido desculpa aos portugueses pelas dificuldades causadas pelos sucessivos atrasos na divulgação das listas de colocação de professores. Mas não é uma boa desculpa que indemniza prejuízos…

3.Afinal a democracia está viva
Mas nem tudo está assim tão mau!... O processo da eleição do novo secretário-geral do Partido Socialista foi uma lufada de ar fresco no desgastado sistema político-partidário.
Eleito de uma forma esmagadora para líder do PS, José Sócrates tem agora todas as condições, e uma legitimidade reforçada, não só pela intensidade da campanha e a existência de verdadeiras alternativas, mas também por recolocar o PS no centro da oposição, o que não acontecia há algum tempo.
Durante cerca de três meses, os candidatos à liderança debateram, com total transparência para toda a sociedade portuguesa, a vida interna do PS, os problemas gerais do País e a forma do partido os enfrentar, percorreram inúmeras delegações regionais, fizeram debates públicos, nomeadamente na televisão, não fugiram a questões sensíveis relacionadas com os militantes e o funcionamento da máquina. Apesar da contundência de algumas intervenções, a verdade é que o nível geral do confronto não ultrapassou os limites desejáveis numa perspectiva de dignificação da vida política.
Portanto, independentemente do vencedor, José Sócrates, o PS deu indiscutivelmente uma contribuição notável para uma renovada imagem pública da actividade partidária. E é curioso notar que a popularidade do partido (que o digam as sondagens), não foi altamente beneficiada por esta atitude dialogante, aberta, alargada e, notavelmente democrática. É este o caminho, francamente gostei! A Democracia Portuguesa está de parabéns …
Do outro lado, marcando a diferença, estará um PSD, seguramente, fundamental à democracia portuguesa, cujo líder de última hora, designado transitoriamente, comanda um governo também transitório, em que ninguém representa ninguém, nem foi mandatado por alguém, do qual se vai sentindo esta dolorosa e transitória desgovernação.
E por cá, oxalá a construção do novo Hospital obedecesse aos interesses de Seia e sua Região e as acessibilidades não ficassem ao critério de um qualquer Secretário de Estado, em fim-de-semana na montanha, que entende (imagine-se!) haver por cá acessibilidades a mais e com IC`s em demasia. Isto, já para não falar no dinossáurico Alberto Jardim laranja, perpétuo líder insular, colocando agora em causa a existência da CNE e representando tudo aquilo que numa democracia nunca deveria existir … Francamente, começa a não haver pachorra!...